Nas várias (para não dizer muitas) discussões que tive com a minha mãe (99% delas durante o terrível processo da adolescência) lembro-me que os argumentos findavam com a expressão mestra “no dia que fores mãe vais entender-me”.
Raios de mulher com bolas de cristal que parecia estar a ler o futuro (ou simplesmente tornou-se mãe e a sua retrospetiva foi claramente a mesma). Pois é certo, nasceu a minha primeira filha e aí está “agora que sou mãe é que te entendo”. Aliás, para mim, a magia de ter sido mãe (por inúmeros fatores que terão destaque noutra publicação futura) foi em expresso esta ligação silenciosa (não sei se alguma vez verbalizei) que secretamente criei no meu íntimo com a minha mãe. Afinal, foi nestes primeiros momentos após o parto que percebi todos os sacrifícios que fizeram por mim, e creio que no verdadeiro momento do parto me lembrei dela, que quis a mão dela.
Hoje, mãe, sei o quão dolorosos são os momentos pós-parto, sei o turbilhão emocional com que se lida nos primeiros meses, sei a dificuldade dos choros, das cólicas, das noites mal dormidas, dos braços que já doem com o colo constante. Sei, também, que quando nasce o primeiro filho, naturalmente e sem qualquer consciência ou decisão acerca dessa transformação, mudamos abruptamente. As saídas à noite são substituídas pelas noites em que preferimos apenas observar a cria a dormir profundamente, os amigos passam pelo filtro natural onde se escolhem apenas aqueles que querem fazer parte da nossa família e não somente da nossa vida, e por isso passam a ser chamados de tios e tias.
Quando vamos às compras, os tais sapatos lindos que vimos na publicidade transforma-se em sacos da Zara Kids (desculpem a publicidade, em breve será outra marca). Nunca tínhamos sido fotografados por profissionais (a não ser no casamento dos amigos), mas já temos o álbum da sessão de grávida, da sessão de recém-nascido, de todos os meses até ao primeiro ano. Preparamos a primeira festa de aniversário como nunca preparamos nenhum Natal lá na primeira casa. O namorado ou marido já não é analisado pelas vezes que lavou a loiça sem que lhe pedíssemos, mas pelas vezes que trocou fraldas e deu banhos antes de chegarmos a casa.
Portanto sim, mudamos.
Sei, hoje, depois de ser mãe, que é verdade, quando nos transformamos em mães, transformamo-nos, também, noutras mulheres. As discussões são outras, os focos são outros, e sabem porquê?
Eu não. Tenho vários motivos, várias explicações, várias teorias. Mas o que verdadeiramente interessa é a constatação do facto. Hoje sou outra. Hoje sou mãe. E, hoje, gosto ainda mais de quem sou.
Obrigada mãe, tinhas razão. Hoje que sou mãe entendo-te bem melhor, e só peço que a minha filha me dê metade do trabalho que te dei.
Eu, mais uma mãe.
P´RA VIDA.
18-12-2018